Pesquisa Google

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Juventudes e Cultura: o Hip Hop de norte a sul

O Hip Hop é uma tendência em permanente expansão entre as juventudes de norte a sul do Brasil. Com ajuda do poder público, o movimento tem ganhado força cada vez mais rápido e, com o espaço na mídia, aí não teve jeito. No entanto, parece que, se não tivesse a ajuda de nenhum dos dois, não teria problema, o pessoal se articula e a coisas acontece assim mesmo. Acompanhe aqui o movimento hip-hop em todas as regiões brasileiras ao mesmo tempo que vale a pena ressaltar que esse movimento na real se encontra ainda mais amplo, pois é cultura de muitas comunidades de base.


Região Nordeste
O Nordeste está bem organizado politicamente. É em Teresina, por exemplo, que fica a sede do MHHOB (Movimento Hip-Hop Organizado). A sede, chamada Centro de Referência da Cultura Hip-Hop, é o maior espaço dedicado à cultura no país. Lá acontecem oficinas de MC, a produção de um fanzine e até um pré-vestibular para negros.
Em Recife, o pessoal também está a cada dia mais organizado. O movimento começou a crescer em 2000 e hoje existe a Associação Metropolitana de Hip-Hop, que une todos os grupos locais. Galo de Souza, referência do hip-hop pernambucano pela sua atuação política, diz que a associação pensa ações para estruturar o hip-hop na região.
Em Natal se destaca pela articulação o Posse de Hip Hop Lelo Melodia, que hoje integra algumas redes de juventudes como a Rede de Jovens do Nordeste, a Rede Sou de Atitude e o Movimento Hip Hop Organizado Brasileiro. Segundo Jenair Alves, integrante da Rede Sou de Atitude, são jovens que concordam com princípios semelhantes e acreditam que, em grupo, é muito melhor para agir no contexto e pensar novas formas de fazer a transformação sócio-cultural. O Posse criou uma produtora, a Melodia Produções, e tem apoiado grupos na gravação de músicas Hip Hop. Produziu um livro que conta a história da juventude da Periferia do Brasil e ainda desenvolve Multirão de Grafite, Música e Debates sobre os direitos da Mulheres.
Em Salvador, o movimento vem crescendo e hoje se ouve o freestyle – rima de improviso – na saída das escolas, nos intervalos de aulas e até em pontos de ônibus. A batida costuma misturar elementos da cultura negra, é o hip-hop afro, como faz o grupo Quilombo Vivo, de Amaralina, em Salvador, que mistura capoeira e candomblé em suas músicas. Outros grupos representativos são: Fúria Consciente, Quilombahia, DGS, Simples Rap’ortagem, Juri Racional, Lica, Os Agentes, Anjos da Rima e Jr-junior.
Em São Luís, a miscelânea é com elementos do folclore, em uma combinação de rap com tambor-de-crioula e com tambor-de-minas. O Clã Nordestino, grupo de São Luís, fez uma batida na música Toada do Clã que começa com cantoria de bumba-meu-boi, passa para a batida do rap e volta para o bumba-meu-boi: uma mistura verdadeiramente original. Eles também misturam rap com maracatu. Lamartine, do Clã, explica que a influência é inevitável.“A gente se criou ouvindo tambor no terreiro das nossas casas, ouvindo cantiga, ouvindo ladainha, até porque a gente veio do interior do estado, então essa convivência com o tambor-de-crioula e o bumba-meu-boi é natural”.


Região Norte
O Norte do Brasil também está articulado e unido. Há um tempo formou-se a rede Movimento Hip-Hop na Floresta (MHF), filiada ao MHHOB. O MHF funde a ideologia hip-hop com conceitos ecológicos para fortalecer a cultura amazônica. Tem MHF no Pará, Amapá, Acre, Rondônia e Amazonas. Em julho, vai acontecer um encontro chamado Ritual do Hip-Hop da Floresta, em Rio Branco – vai durar uma semana e definir as diretrizes do movimento, estabelecer uma agenda e agilizar os projetos. Preto Michel, representante do MHF no Pará, diz que os grupos costumam cantar os problemas de cada região. Em Belém, o grupo MBC fez uma música sobre o massacre de Eldorado dos Carajás; um grupo de Macapá fala da pororoca, o encontro do rio com o mar; e em Rio Branco e Roraima a temática das queimadas é bastante presente.
O movimento valoriza a cultura amazônica, as tribos indígenas, os quilombolas e as populações ribeirinhas. Por isso, em Manaus misturam rap com bumba-meu-boi. Em Macapá, misturam com o marabaixo, som percussivo das comunidades quilombolas. Nesta cidade, o que chama atenção é o número de grupos: apenas nove. Além disso, tem três grafiteiros, que lutam por reconhecimento e apoio.


Região Centro-Oeste
“O rap aqui é do pé rachado.” Foi assim que o MC Letal, da banda goiana Testemunha Ocular, definiu o rap de lá, ou seja, um rap de raiz, da terra. Eles misturam o gênero com a congada, catira, folia de reis, moda de viola. O movimento é um pouco dividido, não tem sede, e as bandas são poucas; mas não fica fora de cena.
Já o pessoal de Brasília parece priorizar mais as letras do que a batida. “Os rappers se preocupam demais em retratar o cotidiano violento e se esqueceram da musicalidade, o que prejudicou a receptividade em outras regiões do país”, diz a jornalista e dançarina de break Bianca Chiaviatti. Mas a receptividade em Brasília é grande, já que a cidade comporta grandes festivais, como o Abril pro Rap, que existe há quatro anos – porém, só em 2005 é que o graffiti e o break ganharam espaço. Os grupos de rap em evidência são: Vadios Loucos, Atitude Feminina, Veronika e Código Penal.


Região Sudeste
No Rio de Janeiro e em São Paulo perde-se a conta de quantos grupos e organizações existem. Descobrimos até articulações no Vale do Paraíba, em São Paulo, onde o hip-hop está presente em todas as periferias, embora de maneira ainda em organização e articulação. Em Jacareí, já existe a Associação Cultural e Educacional Nego Prettu. Lá funciona um Centro de Juventude onde acontecem diversas oficinas.
Recentemente, em São José dos Campos, a Câmara Municipal aprovou um projeto de lei que cria a Semana Hip-Hop, A acontecer sempre em junho. A parte musical tem muita influência da capital de São Paulo, tanto na batida como em letras.
Como em São Paulo, a cultura hip-hop invadiu Belo Horizonte através do break. A dança chegou à cidade com filmes como Break Dance, ao qual os jovens assistiam muitas vezes para aprender os passos; depois se reuniam em espaços públicos para mostrar o que já sabiam. Uma curiosidade: como os b.boys se instruíam pela tela, acabavam invertendo as posições – dançavam espelhado. Essa característica, mais a mistura com a capoeira, resultou em um estilo próprio da região. O rap, hoje em dia, é o elemento com mais visibilidade em Belo Horizonte, mas o graffiti é o elemento que mais cresce, com amplo apoio do governo local.


Região Sul
O Hip Hop em Porto Alegre teve muito apoio do PT, que ajudou o movimento durante seus anos de governo. Também tem muita gente fazendo rap em Porto Alegre e o que prevalece nas letras é a situação da periferia em geral. Poucas letras falam da raça negra especificamente, já que em Porto Alegre a maioria da população é branca.
Em Curitiba, o movimento também cresceu depois que conquistou um espaço maior na mídia. O movimento está se profissionalizando, mas tende para a polarização: enquanto alguns assumem o discurso político- social, que eles chamam de “rap raiz”, com trabalhos que levam o hip-hop para as escolas e para as comunidades, outros fazem o rap underground, mais dançante e com temas mais alegres.
Em Florianópolis, o hip-hop também já conquistou muito espaço. Existem algumas organizações como a CH2F (Conexão Hip-Hop Floripa), Nação Hip-Hop e Hip-Hop Rua. O Nação Hip-Hop, com o Cinema na Favela, promoveu muitas mostras de filmes nacionais e, depois da exibição, debates com alguns atores dos elencos. MV Bill costuma aparecer por lá, pois essa organização é filiada à CUFA – Central Única das Favelas. As outras organizações também desenvolvem trabalhos sociais, com oficinas sobre a cultura hip-hop.

0 comentários:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Jogos Online Grátis